Os Ensaiados

O Carnaval da Nazaré era bem diferente daquilo que é hoje. Tinha inicio no mês de Janeiro, com os “bailes” das tabernas e com os “ensaiados” a percorrer as ruas da Nazaré de taberna em taberna de casa em casa.

Os “ensaiados”, que recorriam a tudo o que possuíssem em casa para não serem reconhecidos nas ruas. Todo o corpo estava coberto incluindo a cara e mãos, para não serem reconhecidos, e até o andar era disfarçado para não ser conhecidos pelo jeito de andar. Era um brilhante desempenho chegar a casa depois de algumas voltas e não ser descoberto. Muitas vezes, para que a “máscara” não fosse desvendada e pudesse ser utilizada noutro dia, voltava-se aos mesmos locais onde se tinha estado já vestido normalmente para que os outros que estivessem desconfiados e a pensar que éramos nós ficassem baralhados.

Recordo-me era ainda bastante novo e acompanhei a minha irmã ao antigo “Restaurante”, que ficava situado no cimo da Praça Sousa Oliveira, onde hoje existe uma loja de roupa, local de encontro de muitos jovens dessa altura, quando aí estávamos, apareceram uns “ensaiados” que disfarçando a voz alguns e outros por “mímica” brincavam com as pessoas que aí se encontravam. Eu desconfiem de um deles, pela altura, pensava saber quem ele era e não me enganei, como trazia as mãos cobertas por luvas era difícil ver as mãos, mas ao mais pequeno descuido foi descoberto, era o Zé Adelino (*), reconheci-o, porque quando retirou as luvas vi que as unhas estavam ruídas a juntar à altura, só poderia ser ele, pois tinha por hábito roer as unhas.

(*) Zé Adelino, que era jogador do GD “Os Nazarenos”